quinta-feira, 18 de junho de 2009

O caminho

Mesmo depois de viver há 27 anos com o meu pai, ainda me surpreendo com a sua vida.
Quando fazemos caminhadas, ele adora contar as suas histórias, especialmente, as de quando esteve na guerra em Moçambique. Essas, geralmente, têm sempre a ver com animais insólitos, chuvas e aventuras. E eu, apesar de já saber muitas de cor, adoro ouvi-las outra vez. É incrível como ele se lembra exactamente das datas de quando tudo aconteceu.
(Acho incrível que as pessoas mais velhas, quando contam histórias (tenho dois tios assim) se lembrem exactamente da data de tudo. Bem, eu tenho menos de um terço da idade deles e não me lembro de muita coisa.)
Mas a semana passada falámos sobre o seu primeiro trabalho. Tinha 18 anos quando a sua namorada, a minha mãe, entrou no seu quintal, com o uniforme do colégio, a perguntar se ele queria ir trabalhar. Ele foi. Era no entroncamento, ele ia de motorizada e ganhava quase tanto num dia quanto o seu pai, o meu avô, ganhava num mês. Os seus pais, os meus avós, iam desmaiando (palavras do meu pai) quando ele lhes contou quanto iria ser o seu ordenado.
Bem sei que esta história não é nada de especial, mas é bom para uma filha saber mais da vida dos seus pais, das pessoas que nos fizeram ser quem somos. É que a verdade é que, se o meu pai tivesse tido uma vida diferente da que teve (e muitas vezes ele acha que devia ter feito as coisas de maneira diferente), eu não seria quem sou hoje. Acho que devo estar feliz por tudo, de bom e de menos bom, que lhe aconteceu.
Ah, como daquela vez, contou-me o meu pai na mesma caminhada… daquela vez em que, em parceria, ele e outro senhor ganharam um prémio no totobola. Onze contos! Com esse dinheiro os meus avós construíram a casa de banho que têm na sua casa ainda hoje. Quem diria?!

Adoro estas caminhadas.

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